Procurando entender como o álcool influencia nossa saúde, cardiologistas do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, publicaram um estudo que aponta que o consumo leve ou moderado de álcool pode diminuir o risco de doenças do coração.
Entretanto, é bom ressaltar que não se trata de algo diretamente ligado ao coração, mas sim ao cérebro. De acordo com os autores da pesquisa, beber com moderação reduz o estresse cerebral, o que acaba gerando bons reflexos na saúde do sistema circulatório. O segredo, neste caso, é justamente a quantidade – em excesso, os efeitos são contrários.
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O estudo, publicado na edição de junho do Journal of the American College of Cardiology, levou em consideração informações de 53 mil pessoas, das quais 713 passaram por exames de imagem que escanearam a intensidade de suas atividades cerebrais e de seus batimentos cardíacos. Os participantes foram divididos em cinco faixas de consumo de álcool diário, considerando cada dose como cerca de 10 gramas de álcool, equivalente a 300 ml de cerveja ou 100 ml de vinho. Os cinco grupos foram: nenhum, leve (de 1 a 6 drinks semanais), moderado (de 7 a 14), alto (de 15 a 28) e exagerado (mais de 28 bebidas por semana).
O consumo exagerado foi a faixa que demonstrou maior estresse, enquanto o moderado pontuou melhor até que nenhuma dose semanal. Os exames de imagem, por sua vez, apontaram que o álcool atua diretamente na amígdala, a parte do cérebro associada à resposta ao estresse.
“Quando a amígdala está muito alerta e vigilante, o sistema nervoso simpático é intensificado, o que aumenta a pressão sanguínea e a frequência cardíaca e desencadeia a liberação de células inflamatórias”, explicou o cardiologista Ahmed Tawakol, principal autor do estudo. “Se o estresse é crônico, o resultado é hipertensão, aumento da inflamação e um risco substancial de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.”
Ainda assim, os médicos disseram que é preciso ter cuidado ao levar a pesquisa para a mesa do bar. “Não estamos defendendo o uso de álcool para reduzir o risco de ataques cardíacos ou derrames devido a outros efeitos preocupantes na saúde”, explicou Tawakol. “Queríamos entender como o consumo leve a moderado reduz as doenças cardiovasculares, conforme já havia sido demonstrado por vários outros estudos. Agora, o objetivo é encontrar outras abordagens que possam replicar ou induzir os efeitos protetores do álcool sem os impactos adversos do abuso da bebida”, completou.
Riscos
Periodicamente, entidades como o US Dietary Guidelines, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e o European Code Against Cancer revisam suas diretrizes para orientar a população em geral e programas públicos de saúde para os riscos do abuso do álcool. O ponto comum entre essas atualizações e o novo estudo, no entanto, é uma clara ênfase na redução da quantidade e frequência do consumo de álcool devido aos riscos associados.
A lógica por trás dessa mudança decorre de pesquisas epidemiológicas abrangentes, que analisam a prevalência de fatores de risco relacionados à saúde em populações específicas e as evidências cada vez mais convincentes sobre os efeitos prejudiciais das bebidas alcoólicas, mesmo quando consumidas em doses moderadas.
Existe uma riqueza de literatura científica que ressalta o impacto significativo do consumo de álcool em ambos os indivíduos e sua qualidade de vida geral. Além do potencial de dependência, o consumo regular de álcool tem sido consistentemente associado a um risco aumentado de cirrose hepática, doenças cardiovasculares, transtornos mentais e até mesmo doenças transmissíveis, como tuberculose e HIV.