O vinho Júpiter mostra que a concepção de que o vinho em ânfora é uma bebida rústica e propensa a defeitos de fermentação é coisa do passado. Este vinho da safra de 2015 chegou ao mercado brasileiro com um preço exclusivo de R$ 18,8 mil.
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Produzido em potes de terracota, conhecidos como talha, ânfora ou qvevris, os vinhos brancos e tintos têm ganhado destaque por sua qualidade nas safras mais recentes.
A complexidade do Júpiter é digna de nota. Originado na Herdade do Rocim, uma vinícola alentejana, este vinho nasceu quando uvas da recém-adquirida Vinha da Micaela foram colocadas aleatoriamente em três ânforas. Com uma colheita que rendeu apenas 1.800 litros as uvas foram armazenadas em três talhas centenárias de 600 litros para fermentação e posterior amadurecimento. Duas foram utilizadas nos vinhos de ânfora mais básicos da vinícola. A outra se destacou pela qualidade excepcional e foi reservada para um projeto futuro.
Desde a safra seguinte, o enólogo Pedro Ribeiro tenta recriar o vinho, mas ainda não teve sorte. Segundo ele, o vinho deve ter um potencial de guarda entre 20 e 30 anos.
“Era intrigante, ficava mais fina, melhor, cada vez que eu a provava”, disse o enólogo Pedro Ribeiro em entrevista à revista inglesa Decanter.
Com pouca intervenção e muitas variedades – são pelo menos 20 castas diferentes com destaque para Trincadeira, Moreto, Tinta Grossa e Alicante Bouschet – é um vinho que se diferencia dos mais tradicionais com passagem em madeira por sua elegância, equilibrada por uma rusticidade típica dos vinhos de talha.
A produção é de apenas 800 garrafas e segundo os produtores, “é um vinho de outro mundo que faz jus ao maior planeta do nosso sistema”.
A caixa em que a bebida é vendida, é uma obra de arte. Desenhada por Pedro Antunes, cofundador da Wines from Another World junto com Cláudio Martins, um dos idealizadores do projeto, é feita de cortiça e traz mais luxo ao conjunto.
Apesar de ser um vinho de safra única, o Júpiter evidencia a crescente qualidade dos vinhos brancos e tintos elaborados nesses recipientes, gerando discussões sobre a talha. Esse tema foi central na Amphora Wine Day (AWD), realizada em novembro no Alentejo, Portugal, em sua sexta edição, reunindo mais de 60 produtores desses vinhos de diferentes países.
Foto em destaque: Ricardo Bernardo