Cientistas franceses descobriram quatro variedade revolucionárias de superuvas que, segundo eles, são impermeáveis à podridão e, portanto, quase não requerem pesticidas.
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Os puristas têm alertado, no entanto, que as criações feitas em laboratório (que misturam genes de uva de todo o mundo) podem levar a um vinho “Frankenstein” de baixo nível para as gerações futuras.
À primeira vista, as uvas vermelhas e brancas que cresceram no Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica em Colmar, no leste da França, parecem com qualquer outra que você já tenha visto. Porém, elas são uma raça diferente e revolucionária de uva cultivada no laboratório, num programa chamado “Resdur”.
O objetivo deles é que a uva seja “resisdente duradouramente” ao ataque fúngico de dois inimigos dos produtores de vinho: o míldio e o oídio.
Nos últimos meses, os cientistas receberam autorização do estado para cultivar quatro variedades de uvas resistentes chamadas Araban, Floreal, Voltis e Vidoc, que gerarão um vinho engarrafado até 2020.
As primeiras tentativas de criar uvas resistentes à podridão começaram lá pela década de 1970, quando um gene resistente foi isolado. Nos últimos 15 anos, os cientistas conseguiram identificar mais três, cruzando uvas europeias com videiras americanas e asiáticas.
Didier Merdinoglu, o “pai” do programa, insistiu que as uvas permitiam que os vinicultores reduzissem o uso de pesticidas entre 80% e 90%. “Estamos falando de cair de uma média de 15 tratamentos (para doenças fúngicas) por ano para um ou dois, acima de tudo para matar outras doenças e parasitas”, disse ele.
Considerando que 20% dos pesticidas usados na França são pulverizados em videiras, mesmo que cubram apenas três por cento de suas safras, os pesquisadores insistem que o avanço pode ser uma dádiva para o meio ambiente e para os produtores de vinho.
A França está sob intensa pressão para reduzir os pesticidas após uma série de casos de câncer entre os vinicultores e um recente escândalo em que alunos de uma escola perto de um vinhedo foram pulverizados com produtos químicos, levando a vários adoecimentos.
No entanto, alguns produtores de vinho alertam que as variedades cultivadas em laboratório podem matar séculos de tradições de cultivo de uva que misturam uvas europeias com o “terroir” local, substituindo-as por outras mais baratas e robustas que não têm o sabor e a qualidade das variedades locais existentes.
Thomas Dormegnies, produtor de vinhos, pesquisador e degustador de Vendée, oeste da França, afirma: “As variedades de uva na Europa foram desenvolvidas por monges ao longo dos séculos para se adequar ao solo local. Essa é uma herança maravilhosa.”
Embora as novas uvas não tenham sido geneticamente modificadas, o cruzamento de variedades de outros continentes levaria a um “vinho Frankenstein artificial e não natural”, alerta ele. “É como cruzar um macaco e um homem: pode ser tecnicamente possível, mas vai contra a natureza”.
Ele acrescenta: “O míldio pode ser muito bem gerido no cultivo de vinho orgânico ou biodinâmico via enxofre ou óleos essenciais.”
O resultado de inundar o mercado com uvas baratas e robustas é arriscar uma “corrida para o fundo da produção industrial do vinho”, buscando rivalizar com o produto barato da Espanha.
“Mas os franceses não podem competir com os baixos custos de produção, condições de sol e regras ambientais mais frouxas do país vizinho”, avisa ele.
Fonte: The Telegraph, Meu Vinho