É difícil dizer como exatamente era os vinhos produzidos pelos antigos romanos. Analisar a possibilidade de sabores e aromas é um trabalho minucioso e um novo estudo mostra que a bebida na época era, na verdade, apimentada e tinha um cheiro de pão torrado.
A pesquisa foi publicada em janeiro de 2024 na revista Antiquity. Os autores são Dimitri Van Limbergen, do Departamento de Arqueologia da Universidade Ghent, na Bélgica, e Paulina Komar, da Faculdade de História da Universidade de Varsóvia, na Polônia.
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“O vinho estava profundamente enraizado em todos os aspectos da vida romana, e seu papel na sociedade, cultura e economia foi muito estudado”, escrevem os pesquisadores. “Textos antigos romanos e pesquisas arqueológicas fornecem informações valiosas sobre a viticultura e a fabricação, comércio e consumo de vinho, mas pouco se sabe sobre a natureza sensorial dessa mercadoria valorizada.”
Em seu estudo, os especialistas analisaram jarros de argila romanos, conhecidos como dolia, que eram usados para fabricar, fermentar e armazenar vinhos antigos. Eles compararam esses recipientes porosos com outros parecidos: os qvevri, usados em produção vinícola na Geórgia, tradição antiga mantida até os dias atuais.
Segundo explica o jornal The Charlotte Observer, os dolia romanos também eram contêineres em forma de ovo, e “teriam sido parcialmente enterrados no solo e lacrados durante o processo de produção de vinho, fatores que contribuiriam para o perfil de sabor do produto final”.
Como resultado desse processo e da adição de leveduras naturais, o sabor do vinho romano era “ligeiramente apimentado” e exalava o aroma de “pão torrado, maçãs, nozes torradas e curry”, segundo os pesquisadores.
Antigos romanos faziam vinhos tintos ou brancos?
Os especialistas também buscaram responder à pergunta se o vinho romano era tinto ou branco. Segundo eles, ao contrário da crença generalizada, parece improvável que a maioria da vinificação na Antiguidade fosse “branca”, ou seja, produzida por fermentação sem peles e sólidos de frutas.
“Em vez disso, a maioria das uvas, independentemente da cor de suas bagas, era vinificada de acordo com o que hoje chamaríamos de vinificação de vinho tinto, com todos os sólidos presentes pelo menos durante a fermentação primária”, contam os autores.
“Isso explica em grande parte a ampla variedade de cores dos vinhos antigos, conforme atestado nas fontes antigas, e a capacidade dos vinicultores romanos de produzir vinhos estáveis numa época sem aditivos e conservantes artificiais”, eles acrescentam.
As cores das bebidas incluíam branco, amarelo-avermelhado, vermelho sangue e preto. Inclusive, os romanos valorizavam tanto essa iguaria que eles até mesmo cultuavam o deus Baco, dedicado ao vinho e à diversão.
Apesar das novas descobertas impressionantes, os pesquisadores consideram que ainda há muito a ser estudado para se entender completamente a produção e as características do vinho romano. São necessários mais dados tanto das dolia antigas quanto de recipientes modernos, além de novas análises de resíduos orgânicos, que facilitarão a comparação das composições químicas dos vinhos em recipientes de cerâmica.