O vinho existe há muito, mas há muito tempo mesmo. A bebida tem grande importância histórica, pois o seu surgimento em tempos remotos tornou-se um produto que acompanhou grande parte da evolução econômica e sociocultural de várias civilizações ocidentais e orientais.
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Do ponto de vista histórico, sua origem precisa é impossível, porque o vinho nasceu antes da escrita. Não foi no Egito onde as primeiras uvas foram cultivadas, no entanto, os egípcios foram os primeiros a registrar em pinturas e documentos (datados de 3000 a 1000 a.C.) o processo da vinificação e o uso do líquido em celebrações. Esses registros são chamados de pictogramas.
Os pictogramas eram feitos com um estilete sobre argila molhada nas tumbas de faraós, nobres e artesãos. Essas artes, realizadas de 3 a 5 mil anos atrás, mostram métodos de produção com tecnologia surpreendentemente avançada.
“Os egípcios contavam com especialistas que podiam diferenciar tipos de vinho com tanta certeza quanto um enólogo de Bordeaux do século XXI”, opina o escritor e pesquisador inglês Hugh Johnson, em seu livro “A História do Vinho”.
A produção do vinho no Egito Antigo
Através dos vestígios arqueológicos, sabe-se que eles colocavam uma barra de ferro a uma altura um pouco acima da cabeça, no meio de uma tina aberta, que ajudava os trabalhadores a manter o equilíbrio enquanto pisavam em massas de uvas escorregadias.
Alguns pictogramas mostram a fermentação do vinho já sendo iniciada nos tanques onde eram realizadas as pisas, uma vez que se pode ver um suco escuro escorrendo delas e caindo diretamente nas jarras de fermentação.
Outras imagens, no entanto, causam dúvida sobre as etapas da produção. Sabe-se que o Egito é uma região muito quente, então devia produzir uvas que certamente eram colhidas maduras e muito doces. Mas há ausência de sinais que indiquem uma tentativa de resfriar o líquido durante a fermentação, o que deixa historiadores e enólogos surpresos. No final, os jarros eram vedados com barro, processo tão eficaz quanto a atual rolha de cortiça.
O consumo do vinho
O vinho era tomado em homenagem aos deuses, especialmente a Osíris, deus responsável pela vegetação e vida após a morte (por isso existiam pinturas nas tumbas). Osíris era chamado de “senhor da bebedeira dos festivais” e “senhor das vinhas nas enchentes”, apelidos similares ao deus grego Dionísio e ao romano Baco.
Segundo o jornal Britânico Telegraph, cientistas espanhóis descobriram que o rei Tutancâmon tinha em sua tumba jarros de vinho tinto que o esperavam no pós morte. Além disso, estudos revelaram que a ânfora junto à cabeça do corpo de Tutancâmon continha vinho tinto, a colocada do lado direito do corpo continha shedeh (variedade de vinho tinto mais doce) e a terceira, junto aos pés, continha vinho branco.
Sabe-se que os faraós ofereciam vinhos e queimavam vinhedos aos deuses, que os sacerdotes usavam em rituais e que os nobres bebiam em festas de todos tipos. As outra classes, todavia, eram financeiramente impossibilitadas de sua compra.
Nem sempre o vinho era consumido em cálices. Muitas vezes era bebido em canudos colocados diretamente nas jarras.
O consumo de vinho aumentou com o passar do tempo e – junto com o azeite de oliva – foi um grande impulso para o comércio egípcio, tanto o interno quanto externo. Os primeiros enólogos foram egípcios.
A partir de 2 500 a.C., os vinhos egípcios foram exportados para a Europa Mediterrânea, África Central e reinos asiáticos. Os responsáveis por essa propagação foram os fenícios, povo oriundo da Ásia Antiga e natos comerciantes marítimos. Em 2 000 a.C., chegaram à Grécia.
Atualmente, milênios depois, a indústria moderna do vinho egípcio é relativamente pequena, embora avanços significativos tenham sido feitos para revitalizá-la. Mesmo assim, a história destes pioneiros é bastante importante para a humanidade.
Referências: Bird Cage of The Muses, Wikipédia, Revista Adega, Recorte Enólogo