A Cordilheira do Andes, patrimônio natural da cidade, além de embelezar, é a condição fundamental para que seja possível o cultivo de vinhedos em Mendoza. Sem a Cordilheira, que acumula neve nos picos mais altos, não haveria água para irrigação nessa cidade de clima desértico. A cada dia de sol, o gelo derrete e desce pelos córregos que se formam entre os vales banhando os vinhedos com água, os enólogos com contentamento e os enófilos de alegria. Tal é a magnitude dessa formação rochosa, que a impressão é de que ela está a poucos passos dos vinhedos, e com isso oferece um espetáculo de luz e sombra pronto para ser emoldurado.
A província de Mendoza divide-se em três regiões vitiviníferas: Lujan de Cuyo e Maipú, nas imediações da cidade e o Vale do Uco, que fica 80 km a sudoeste de Mendoza. Mendoza está a 700 metros acima do nível do mar; no vale do Uco, no entanto, essa altitude aumenta e pode variar entre 900 e 1.500 metros, o que deixa as temperaturas gélidas, quase paralisantes, durante a noite. Ali é muito frio mesmo! A paisagem pode ser mais nítida ainda. O ar impecavelmente limpo que resulta da altitude desenha contrastes que dariam inveja a qualquer pintor neoclássico.
Apesar do frio, os verões quentes aliados a grande diferença de temperatura entre o dia e a noite – tanto no período de crescimento quanto na época da colheita – originam frutos de taninos maduros, com teor de açúcar alto. Já que o vinho é o resultado da transformação do açúcar em álcool, essas uvas nos trazem vinhos de excelente potencial alcoólico.
Claro que isso não é só o que conta. Não adiantaria nada ter muito álcool sem compostos fenólicos que o acompanhassem. A uva escolhida pelos argentinos para representar o país adaptou-se muito bem em Mendoza e embora algumas vezes seja explorada em blends, também faz vinhos varietais (aqueles que são feitos com uma só variedade de uva) pra ninguém botar defeito. Estou falando, obviamente, da Malbec. Por condições climáticas, de solo, mas muito também por força de vontade, os argentinos elevaram a Malbec no mapa vitivinícola.
Ao mesmo tempo em que os seus vinhos são cada vez mais conhecidos no mercado internacional, Mendoza é uma cidade que ganha mais visitantes a cada ano. A cidade possui ótima infraestrutura para atender o turista, e as vinícolas têm o maior prazer em receber, mas você precisa agendar. Se você quiser ir para lá e harmonizar seu Malbec, deve fazê-lo com uma parrilla argentina ou bife ancho sem medo de errar. No outro extremo, uma opção leve seria uma salada de folhas, tomates secos doces, queijo emmental e avocato servida no Hotel Hyatt Mendoza que harmoniza demais com o Chardonnay cremoso feito pelas boas bodegas daquela região. Nos restaurantes, qualquer carta de vinhos lhe parecerá completa. Para quem está no Brasil e quiser experimentar um pouco de Mendoza, os vinhos Malbec trazem a expressão do terroir e harmonizam com assados, almôndegas, massas com molhos picantes e churrasco.