A Villa dos Quintilii é uma das mais impressionantes ruínas romanas. O local é considerado quase que uma cidade em miniatura por conta de seu tamanho: apenas 24 hectares. Situada na antiga Via Ápia, no sudeste de Roma, a vila tinha seu próprio teatro, uma arena para corridas de bigas e um complexo suntuoso de banhos, que tinha paredes e pisos revestidos de mármore.
A história da Villa, que remonta ao século 2 d.C., inclui uma instalação com uma série de luxuosas salas de jantar com vista para as fontes que jorravam vinho jovem.
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Além disso, também havia áreas de piso revestidas de mármores onde os escravizados pisotearam frutas recém-colhidas, tudo isso sob observação do imperador, que festejava junto de sua comitiva. “[A Villa dos Quintilii] era uma incrível mini cidade completada por uma vinícola de luxo para o próprio imperador satisfazer suas tendências báquicas”, descreve o arqueólogo Dr. Emlyn Dodd.
Diretor assistente da Escola Britânica em Roma e especialista em produção de vinho antigo, Dodd publicou uma análise sobre as descobertas dos arqueólogos em um artigo para a revista acadêmica Antiquity.
Segundo o The Guardian, a antiga adega romana foi encontrada por acaso, quando arqueólogos do Ministério da Cultura italiano tentavam encontrar um dos pontos de partida para a arena da Villa.
Sabe-se que a arena para corridas de bigas foi construída a mando do imperador Cómodo, que reinou entre 176 e 192 d.C.. A vinícola foi construída posteriormente sobre um desses portões de partida.
Notoriamente violento, Cómodo mandou matar os proprietários originais da Villa — os ricos irmãos Quintilii, assassinados nos anos de 182 e 183. Depois disso, os governantes imperiais se apropriaram pessoalmente do complexo, expandindo e modificando-o ao longo dos séculos.
Também descobriu-se o nome Gordian estampado em um vasto tonel de coleta de vinho, o que significa que o imperador provavelmente construiu a vinícola ou a renovou. Ele seria Gordiano III, que governou entre 238 e 244; visto que o primeiro e o segundo imperadores com esse nome reinaram apenas por alguns dias.
Na Villa, aberta ao público, Dodd apontou as áreas retangulares de pisa de vinho recentemente escavadas. “Normalmente, essas áreas de piso seriam cobertas por um concreto à prova d’água”, disse ele. “Mas estes estavam cobertos de mármore vermelho. O que não é o ideal, pois o mármore fica incrivelmente escorregadio quando molhado. Mas mostra que quem construiu isso estava priorizando a natureza extravagante da vinícola em detrimento de considerações práticas”, explica.
Depois de pisadas, as uvas esmagadas seguiam para os dois lagares mecânicos, com 2 metros de diâmetro, que existiam ali perto. O mosto de uva resultante era então enviado para três fontes, que brotavam de nichos semicirculares colocados na parede de um pátio. Havia de fato cinco fontes, com duas bicas externas produzindo água.
O mosto da uva, tendo caído das fontes, fluía ao longo de canais abertos em vastas dolias de cerâmica, ou jarros de armazenamento, colocados no chão — uma técnica de vinificação padrão na Roma antiga, uma vez que criavam um microambiente estável na qual a fermentação acontecia.
Na vinícola também havia salas de jantar cobertas com entradas amplas e abertas, que foram colocadas em torno de três lados desta área de pátio aberto. Dito isso, Dodd sugere que o imperador teria festejado e desfrutado de todo o espetáculo teatral da produção de vinho.
Apenas uma dessas salas de jantar foi escavada — embora o arqueólogo busque financiamento para descobrir todas elas. Assim, constatou-se que suas paredes e pisos foram cobertos com lâminas de mármore incrustadas multicoloridas em elaborados padrões geométricos.
Toda a instalação parece ter sido projetada tanto com a questão prática da produção de vinho quanto para a teatralidade da produção da bebida.
Cartas de um imperador anterior, Marco Aurélio, atestam que ele se banqueteou enquanto observava o trabalho de vinificação — talvez em uma luxuosa instalação de vinificação na Villa Magna, a cerca de 50 quilômetros de distância a sudeste da Villa dos Quintilii.
A hipótese de Dodd é que o imperador e sua comitiva podem ter visitado a Villa dos Quintilii anualmente para inaugurar a safra daquele ano com um ritual e um espetacular, e certamente bêbado, banquete.