Os recentes casos de intoxicação por metanol ergueram um alerta aos consumidores. Apesar dos registros terem acontecido após a ingestão de bebidas alcoólicas destiladas (como gim, vodka e uísque), especialistas alertam que o biocombustível também pode adulterar cerveja e vinho.
“Para o adulterador não há limites, desde que haja lucro”, afirmou Rodrigo Ramos Catharino, farmacêutico, doutor em Ciência de Alimentos e professor da Unicamp em entrevista ao Terra.
Catharino explica que a escolha pelos destilados é motivada pelos preços e teores alcoólicos mais elevados, além de serem mais fáceis de adulterar do que os fermentados. “Mas todo e qualquer produto alcoólico é viável”, avisa.
Segundo o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, foram confirmados sete casos de intoxicação por metanol, associados à suspeita de consumo de bebidas adulteradas. Outros 15 casos permanecem em investigação. Até o momento, foram cinco óbitos: um confirmado na capital paulista e quatro em análise.
O farmacêutico e bioquímico Alaor Aparecido Almeida, do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unesp, em Botucatu, explica que o metanol é adicionado para aumentar o volume das bebidas adulteradas.
“É usado para vender mais com um preço menor. O metanol costuma ser mais barato que o álcool, porque é mais fácil de produzir. Por isso, os criminosos geralmente escolhem destilados, que têm maior valor de mercado. Como a cerveja é relativamente barata, a chance de adulteração é menor”, afirma.
O presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci aponta que a entidade não recebeu notificações sobre adulterações em vinhos. “O que acontece é substituir um vinho caro por outro mais barato, mas não adulteração”, explica.
A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) informou que intensificou a fiscalização em depósitos e pontos de venda de bebidas no estado. As equipes estão autorizadas a coletar amostras suspeitas para análise laboratorial, interditar preventivamente lotes e articular ações conjuntas com o Procon, o Ministério Público e as forças de segurança.
Como identificar se o metanol foi usado para adulterar a bebida?
A Apevisa orienta a população a observar alguns sinais que podem indicar adulteração:
- verificar se a bebida possui registro no Ministério da Agricultura e Pecuária;
- checar se o produto apresenta rótulo completo e lacre adequado;
- comprar somente em locais confiáveis;
- ter atenção redobrada com drinques prontos;
- evitar produtos sem procedência ou com preços muito abaixo do mercado.
Em caso de dúvidas, a orientação é buscar ajuda imediata. O Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Pernambuco (CIATox-PE) funciona 24 horas pelo telefone 0800 722 6001.
Denúncias também podem ser feitas à Ouvidoria da SES (136), ao Procon (0800 282 1512) ou à Delegacia de Crimes contra o Consumidor pelo número (81) 3184-3835.
A Wines of São Paulo, entidade que reúne 11 vinícolas do estado, divulgou uma nota de preocupação diante dos casos de intoxicação por metanol.
Segundo o comunicado, a adulteração e o contrabando comprometem a confiança do consumidor, prejudicam empresas sérias, reduzem a competitividade e colocam em risco a vida de milhares de pessoas.
A instituição reforçou ainda a orientação para o público adquirir bebidas somente de fontes seguras e confiáveis.