Quem tem mais de 50 anos não vai achar o assunto estranho, afinal era comum ir até os empórios e armazéns com uma garrafa de cerveja, de refrigerante e em alguns casos um garrafão de vinho, e “trocar” por uma garrafa cheia com um pequeno desconto. Era o tal do “vasilhame”.
Mas logo depois os plásticos e as latas tomaram de assalto a indústria das bebidas gaseificadas e da cerveja. Praticidade e preço, mas não necessariamente sustentabilidade. O que não parecia um problema 20/30 anos atrás hoje é, principalmente para a indústria do vinho.
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Ainda está na memória de vinhateiros europeus e latino americanos (converse com um produtor brasileiro e ele certamente tem uma história para contar sobre isso), a escassez de garrafas durante a pandemia de Covid-19. Os motivos eram válidos (isolamento, fornos apagados, limitação de transporte e de vendas além-mar), mas o resultado foi catastrófico para a indústria. Repensar essa cadeia produtiva das garrafas de vidro, que é dependente de poucos fabricantes, é urgente.
O vidro ainda é o melhor recipiente para os vinhos e tem a vantagem de ser totalmente reciclável. Vidro vira vidro, sempre. Mas o que a Alfred University, através de seu centro de inovação de vidros nos Estados Unidos, está pesquisando é a viabilidade da reutilização pós lavagem das garrafas vazias nas próprias empresas, sem que elas tenham que retornar ao começo da cadeia produtiva.
O Departamento de Conservação do Meio Ambiente do estado de Nova York investiu 4,2 milhões de dólares no projeto que vai focar nas vinícolas de Finger Lakes, região a noroeste de Manhattan, numa zona demarcada (AVA) que agrupa mais de 130 vinícolas. Alguns produtores locais declararam que chegam a utilizar, apenas em suas degustações internas para turistas, 10 mil garrafas por ano.
A pesquisadora Rebecca Welch, que faz parte do estudo, afirmou que em alguns países que permitem que as garrafas sejam lavadas, elas podem ser reutilizadas até 30 vezes. No Canadá existem programas assim para a indústria cervejeira. No entanto, um dos desafios da pesquisa é saber se o vinho chega a corroer o vidro (que é poroso) de alguma forma, se o processo de limpeza também pode ocasionar corrosão na superfície interna e se isso pode prejudicar o vinho. Outra preocupação é com a quantidade de água que deverá ser utilizada no processo e os produtos detergentes, sendo que o objetivo maior de todo o estudo é diminuir o impacto ambiental e não aumentá-lo.