Uma pesquisa liderada pela cientista Rosa Lamuela-Raventos, da Universidade de Barcelona, pode redefinir a visão tradicional sobre o consumo de vinho durante as refeições. A crença amplamente difundida é que ingerir álcool junto à comida pode prejudicar a perda de peso devido às calorias do vinho e ao impacto do metabolismo do álcool. No entanto, estudos recentes sugerem que essa percepção pode estar equivocada.
De acordo com a responsável, a ingestão moderada de vinho durante as refeições pode, na realidade, acelerar o metabolismo e contribuir para a perda de peso. Sua teoria se baseia em um artigo publicado em 2015 no British Journal of Nutrition, que destacou os benefícios da dieta mediterrânea para a saúde cardiovascular. Essa abordagem alimentar, rica em azeite de oliva, frutas, vegetais, grãos integrais e vinho tinto, tem sido amplamente associada a uma vida mais saudável e longeva.
Os pesquisadores identificaram que a ingestão moderada está correlacionada a uma redução na prevalência da síndrome metabólica. Essa condição engloba um conjunto de fatores de risco, incluindo circunferência abdominal aumentada, hipertensão e níveis elevados de colesterol, que elevam a probabilidade de doenças cardíacas, derrames e diabetes.
Um estudo brasileiro conduzido em 2016 reforçou essa conclusão, indicando que beber vinho durante as refeições pode estar relacionado a uma menor incidência da síndrome metabólica.
Além disso, Rosa utilizou os resultados do ensaio PREDIMED (Prevención con Dieta Mediterránea) para desafiar a noção de que o vinho seria um produto de “calorias vazias” – ou seja, um alimento sem valor nutricional significativo. Segundo ela, essa visão não condiz com a realidade.
Embora as calorias do vinho sejam provenientes principalmente do etanol, a bebida contém quantidades expressivas de potássio e outros minerais essenciais. Além disso, o vinho tinto se destaca como uma das principais fontes de polifenóis da dieta mediterrânea.
Uma taça de vinho, por exemplo, possui cerca de 125kcal por porção. No entanto, segundo a pesquisadora, é importante considerar que o conteúdo polifenólico da bebida pode favorecer a queima dessas calorias, ao invés de simplesmente armazená-las como gordura. Em entrevista à revista Wine Spectator, ela argumentou que o efeito metabólico do vinho precisa ser considerado ao avaliar seu impacto na dieta.
Vinho e a termogênese para a perda de peso
A termogênese representa um dos mecanismos fundamentais para a perda de peso. Esse processo metabólico permite que o organismo queime calorias para gerar calor, o que, por sua vez, auxilia na manutenção do peso corporal. A pesquisadora acredita que beber vinho tinto durante as refeições pode estimular esse processo, tornando o organismo mais eficiente na queima de gordura.
Os polifenóis presentes no vinho, especialmente o resveratrol, desempenham um papel central nesse fenômeno. Eles incentivam o aumento do tecido adiposo marrom, um tipo de gordura corporal que consegue transformar os alimentos ingeridos em energia térmica. Em outras palavras, esse tipo de gordura ajuda a converter calorias em calor, ao invés de armazená-las como gordura branca, a qual é mais associada ao ganho de peso.
Outro ponto destacado por Rosa é que o vinho tinto contém uma quantidade significativamente maior de polifenóis em comparação com outras bebidas alcoólicas. Essa característica pode explicar por que os indivíduos que consomem vinho de maneira moderada tendem a apresentar um índice de massa corporal (IMC) mais baixo e uma frequência cardíaca reduzida.
O efeito antioxidante dos polifenóis também contribui para a saúde gastrointestinal, funcionando como um prebiótico natural.
Benefícios do vinho para a saúde cardiovascular
O vinho tinto tem sido amplamente estudado devido aos seus efeitos benéficos para o coração. Os polifenóis, especialmente o resveratrol, desempenham um papel protetor contra doenças cardiovasculares ao reduzir a inflamação e melhorar a circulação sanguínea. Estudos anteriores já haviam demonstrado que o consumo moderado de vinho pode aumentar os níveis de colesterol HDL (conhecido como colesterol bom) e reduzir a oxidação do colesterol LDL (o colesterol ruim), prevenindo o acúmulo de placas nas artérias.
Os flavonoides presentes no vinho também contribuem para a saúde dos vasos sanguíneos, reduzindo a pressão arterial e prevenindo a formação de coágulos. Esse efeito protetor é especialmente relevante para indivíduos que seguem a dieta mediterrânea, onde o consumo de vinho é equilibrado e inserido em um contexto alimentar saudável.
O impacto do vinho na menopausa
Embora a maioria dos estudos sobre os benefícios do vinho tenha se concentrado em populações gerais, Lamuela-Raventos tem direcionado sua atenção para um grupo específico: mulheres na pós-menopausa. A menopausa está frequentemente associada a um aumento na gordura abdominal e a um maior risco de doenças cardiovasculares. Nesse sentido, compreender como o vinho pode influenciar esse grupo é essencial.
Para investigar essa questão, a pesquisadora desenvolveu um estudo baseado no uso do ácido tartárico como biomarcador para rastrear o consumo de vinho. Esse método é considerado mais confiável do que questionários convencionais, que podem apresentar falhas devido à subjetividade das respostas.
O estudo contou com a participação de 215 mulheres na pós-menopausa, e os primeiros resultados sugerem que aquelas que consumiram vinho regularmente não apresentaram aumento no IMC, no peso ou na circunferência da cintura.
Embora os dados ainda não tenham sido publicados em revistas científicas, os achados preliminares indicam que o consumo moderado de vinho pode ter um impacto neutro ou até benéfico na composição corporal de mulheres nesse estágio da vida. Esse resultado é relevante por desafiar a ideia de que o álcool necessariamente contribui para o ganho de peso.
Considerações finais
As descobertas de Rosa Lamuela-Raventos reforçam a necessidade de uma reavaliação sobre o impacto do vinho na dieta e na saúde. Embora a moderação continue sendo essencial, os estudos indicam que o vinho tinto pode oferecer benefícios metabólicos significativos, desde que inserido em um contexto alimentar equilibrado, como o da dieta mediterrânea.
A termogênese induzida pelos polifenóis, a melhora da saúde cardiovascular e os potenciais efeitos na menopausa são aspectos que merecem atenção. No entanto, é importante lembrar que os estudos são, em grande parte, observacionais e baseados em populações específicas, como as que seguem hábitos alimentares mediterrâneos.
Fatores como genética, nível de atividade física e estilo de vida também influenciam os efeitos do vinho no organismo. Além disso, o consumo excessivo de álcool pode ter consequências negativas, superando quaisquer possíveis benefícios. Portanto, a recomendação geral continua sendo a moderação, com uma abordagem equilibrada e informada sobre a ingestão da bebida.
No futuro, mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e expandir a compreensão sobre a relação entre vinho, metabolismo e saúde. Entretanto, as evidências atuais sugerem que, para aqueles que apreciam uma taça de vinho durante as refeições, há boas razões para considerar essa prática parte de um estilo de vida saudável.
1 comentários
Adorei, principalmente “… pode explicar por que os indivíduos que consomem vinho de maneira moderada tendem a apresentar um índice de massa corporal (IMC) mais baixo e uma frequência cardíaca reduzida.”